Era protagonista. Foi a última a se unir ao grupo já de mãos dadas. Os olhos pintados de azul combinavam com o vestido de princesa. Os olhos não miravam o público. Em sua cabeça, além da coroa, uma frase martelava – Yes, he is a frog and I invited him to live here in the castle – justamente o ponto onde se deslindava o emaranhado da trama. Ao seu lado, o menino vestido de sapo sorria e acenava para a mãe. Claro, ele tinha se lembrado de todas as suas falas. Sim, ele é um sapo e eu o convidei para morar aqui no castelo – justamente quando mais precisava lembrar. Deu branco. A voz de sua tia ficava repetindo por cima da frase – relaxa, pois a gente faz bobagem desde que nasceu e vai continuar assim até ficar velhinha; a gente acerta tantas outras coisas. Não adiantava nada. Ela tinha o resto da vida para fazer bobagens e aquela era a pior de todas as horas. Não importava se havia legendas no fundo do palco, não importava se a coordenadora do curso ia dizer que tudo bem. Ensaio, ensaio, decoreba, ensaio com figurino, convite à família, um livro para usar em cena, trouxe as meias? maquiagem cabelo prende bem a coroa estamosatrasadasnãoesqueceo sapatofiquemaínofundoquietinhosqueaplateiatálotada Yes he is a frog... merda. Merda!
Ela segurou a mão do menino-batráquio sem muita convicção. Os olhos pregados ao chão. As costas custaram a ceder. Os ombros se curvando para a frente como folha em fim de incêndio. Os lábios delatores recusaram os dentes. A cabeça coroada enfim tombou.
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